Críticas furadas (ou não), filmes bons e ruins, opiniões, criações, pensamentos, enfim...um lugar de expressões criadas entre paredes roxas.

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segunda-feira, 3 de maio de 2010

#FILME: Última Parada - 174 (Spoilers)

"É retrato em preto e branco, quase jornalístico, duro, dolorosamente real, como as capas dos tablóides populares."

Rio de Janeiro, 1983. Marisa (Cris Vianna) amamenta o pequeno Alessandro (Marcello Melo Jr.), em sua casa na favela. Viciada em drogas, assiste impotente seu filho ser retirado de suas mãos pelo chefe do tráfico local, devido à uma dívida não paga. Dez anos depois Sandro (Michel Gomes), filho único, vê sua mãe ser morta por dois ladrões. Apesar de ficar sob os cuidados da tia, ele decide fugir e passa a conviver com um grupo de garotos que dorme na igreja da Candelária, onde tem acesso ao mundo das drogas. Apesar de não saber ler ou escrever, Sandro sonha em ser um famoso compositor de rap. Para tanto ele espera a ajuda de Walquíria (Anna Cotrim), que realiza um trabalho voluntário junto a meninos de rua. Só que Sandro testemunha mais uma tragédia, a chacina da Candelária, onde 8 meninos de rua foram mortos pela polícia. Este evento aproxima Sandro e Alessandro, que passam a ter um forte convívio.
Continuando...Marisa acha que o filho é Sandro, mas é Alexandre. Ela começa a viver junto com o pastor de sua igreja, e enquanto isso passa seus dias procurando por seu suposto filho. Sandro se marginaliza ainda mais e vai para a cadeia. Lá Marisa consegue achá-lo. Os garotos fogem da cadeia, e Sandro e Alexandre começam a fazer do roubo uma rotina. Mas em um assalto onde uma mulher não consegue pegar a bolsa que caiu no carro, Alê pede pra Sandro atirar nela e ele não consegue, então ele mesmo o faz. Alê se dá conta de que não dá certo trabalhar com Sandro. Este, por sua vez, procura por Marisa e por sua antiga namorada, que era garota de programa. O pastor não gosta de vê-lo morando na casa e o filme vai se desenrolando. Por final, ele vai na casa de sua namorada e a vê com Alê. Em um ataque de fúria ele bate nos dois, vai para a rua, rouba a cola de um garoto de rua e cheira. Então ele entra em um ônibus e resolve assaltar. E o final da história todo brasileiro acompanhou em tempo real no dia do acontecimento.

Este filme me forçou a pensar: Vítimas da sociedade são um fato ou algo que as pessoas inventaram?
Este filme, como já estamos acostumados a pensar quando se trata de filme brasileiro, sim, é recheado de palavrões, de gente de baixa renda, de favela, de tráfico de drogas, de crianças de rua, etc.
Quando eu assisti, esperava mais ênfase para o fato do sequestro do ônibus, mas quando a cena realmente passa, percebe-se que foi feito em tempo suficiente (20 minutos finais do filme).
A fotografia é muito boa, e o roteiro também não deixa a desejar, apesar de assistirmos anciosos para a chegada dele ao ônibus.
muitas cenas podem até chocar quem assistiu a poucos filmes brasileiros de violência, como quando Alê e Sandro estão de motos assaltando os carros e Alê atira em uma mulher aflita por não encontrar a sua bolsa. Ou até, o humor incontido da garota que escreve com o batom no ônibus, que tenta negociar estranhamente com Sandro.
Para quem odeia filmes do tradicional "jeitinho brasileiro", o filme pode ser um pé no saco a mais, mas para quem se importa mais com outras coisas do que com palavrões, o filme pode ser interessante.


Playing: Roses To No One - Edguy

sexta-feira, 30 de abril de 2010

#FILME: O Menino do Pijama Listrado (Spoilers)

"O filme é pavoroso e ao mesmo tempo maravilhoso. Nunca uma estória do holocausto tocou tão fundo na ferida"

Alemanha, 2ª Guerra Mundial. Bruno (Asa Butterfield), de 8 anos, é filho de um oficial nazista que assume um cargo em um campo de concentração. Isto faz com que sua família deixe Berlim e se mude para uma área desolada, onde não há muito o que fazer para uma criança de sua idade. Ao explorar o local ele conhece Shmuel (Jack Scanlon), um garoto aproximadamente de sua idade que sempre está com um pijama listrado e do outro lado de uma cerca eletrificada. Bruno passa a visitá-lo frequentemente, surgindo entre eles uma amizade.
Shmuel faz um pequeno trabalho na casa de Bruno, onde ele lhe dá comida, como sempre fazia quando se encontravam um em cada lado da cerca. Porém, um dos soldados do pai de Bruno chega e vê Shmuel com um pedaço de pão na mão, e por medo, Bruno diz que ele roubou.
Na próxima vez que se encontram no campo de concentração, Shmuel está com um olho machucado, em coseqüencia da mentira de Bruno, e como forma de se desculpar, Bruno propõe que ele ajude Shmuel a achar seu pai que tinha sumido dentro do campo. Shmuel empresta um "pijama" a Bruno e ele cava um buraco na terra e entra. Porém, aquele era o dia de exterminar os judeus para depois queimarem os seus corpos. A família percebe que o garoto sumiu e começam a procurá-lo por todas as partes, e simultaneamente, ele está entrando com os outros judeus na câmara de gás, totalmente desentendido do que se passa. Os soldados acham o burado que cavou e suas roupas perto da cerca, e constatam que quando os judeus foram mortos, ele estava no meio deles.

A obra-prima de 2009. Foi assim que o filme foi classificado por um crítico de cinema, e realmente não podiam ter classificado melhor.
Existem aos montes filmes que tratam da 2ª guerra mundial, holocausto, Hitler, judeus, etc, mas O Menino de Pijama é um filme comovente, trata este assunto com uma leveza sem deixar a violência (que é o principal fato do assunto) de fora do filme. Apesar de se passar aos olhos de uma criança, o filme em momento algum é fantasioso.
O final me lembrou vagamente o final de Hair, onde uma pessoa boa morre por tentar ajudar seu amigo.
A inocência das crianças é levada à tona a todo momento. Há uma parte em que Shmuel leva o "pijama" para Bruno e diz que tem um lugar que tem um monte de pijamas. Este lugar é mostrado em última cena, que na verdade é o local na frente da câmara, onde os judeus são obrigados a tirarem os seus pijamas e ficarem nus para entrarem.
Pode até ser meio clichê filmes em que assuntos sérios, graves ou violentos são tratados sob a visão de crianças, mas este é um tipo de filme que sempre será comovente, sempre nos deixará pensando sobre dias, revendo os valores da inocência, sempre nos dando aquela pontinha de vontade de esquecer tudo o que sabemos sobre coisas ruins e ficar na dúvida sobre o que acontece perto de nossas vidas.


Playing: You Learn - Alanis Morissette

#FILME: A Fita Branca (Spoilers)

"Haneke mostra mais uma vez que seu cinema não perde a força com o tempo, pelo contrário: o cineasta consegue provocar o espectador como poucos."

1913. Em um vilarejo no norte da Alemanha vivem as crianças e adolescentes de um coral, dirigido por um professor primário (Christian Friedel). O estranho acidente com o médico (Rainer Bock), cujo cavalo tropeça em um arame afiado, faz com que uma busca pelo responsável seja realizada. Logo outros estranhos eventos ocorrem, levantando um clima de desconfiança geral.
Por final, constata-se que os culpados pelos acontecimentos eram o médico e sua mulher, que fugiram e nunca mais apareceram.

Belíssimo filme, mas por um momentos parece ser um filme "mais do mesmo", exceto pela característica marcante de ser em preto e branco.
É até um tanto quanto assustador ver o relacionamento de pais e filhos, pelo exesso de rigor na educação dada a eles, onde as crianças não podem se expressar, e vivem quase como seres irracionais.
Outro fato singular, mas que pode até passar despercebido, é o narrados ter uma voz velha, rouca e cansada, quando geralmente narradores têm voz de locutores de rádio
Violência implícita é o ponto chave do filme, uma vez que todos os acontecimentos giram em torno dela, de forma peturbadora para quem asssite.
O nome do filme é relacionado à uma fita branca em que o pai, professor de educação religiosa coloca no pulso das crianças para sempre se lembrarem de suas purezas.
Bom filme, mas por vezes um pouco monótono.


Playing: I can see clearly now - Jimmy Cliff

terça-feira, 13 de abril de 2010

#FILME: Tempos de Paz (Spoilers)

"E desta vez vai ser mais difícil dizerem por aí que o filme tem cara de televisão. Porque ele tem corpo e alma é de teatro. Teatro bom, claro."

18 de abril de 1945. Durante anos centenas de pessoas foram torturadas pelo regime de Getúlio Vargas mas, com a pressão externa decorrente do fim da 2ª Guerra Mundial, vários presos políticos ganharam a liberdade. Segismundo (Tony Ramos) é um ex-oficial da polícia política de Vargas que agora teme que suas vítimas resolvam se vingar. Ele trabalha como chefe da seção de imigração na Alfândega do Rio de Janeiro, tendo por função evitar a entrada de nazistas. Em uma averiguação habitual ele interroga Clausewitz (Dan Stulbach), um ex-ator polonês que, por recitar Carlos Drummond de Andrade, lhe foi enviado por um subalterno. Para convencer que não é nazista, Clausewitz precisa usar todo o seu talento como ator.

Esse é mais um daqueles filmes que tornam um momento crítico e dramático em mágico. É o famoso encanto onde ninguém enxerga. Tony Ramos sempre nos dando orgulho da atuação brasileira e Dan Stulbach em um papel até meio forçado à primeira vista, mas que depois é explicado pelo fato de o personagem ter trabalhado durante 10 anos encenando monólogos.
No começo do filme, até temos a falsa impressão de que vai acontecer muita coisa, vamos ouvir barulhos de tiros, ver gente morrendo, uma bela reviravolta, etc. Mas começamos a perceber que acontecerá o contrário. Será um filme monótono e cansativo. Pois bem, por fim nos damos conta de que é uma bela obra de arte, mesclando a genialidade do teatro com torturas lembradas por Segismundo, ou citações de Carlos Drumond de Andrade, com a maneira rude com que Clausewitz fora tratado, o confundindo com um nazista.
A parte interessante do filme, é a leveza e a beleza das palavras, quando na verdade, ninguém espera isso. Concordo com o fato de que a história ficaria mais bem adaptada em uma peça de teatro mesmo, mas de qualquer maneira, o diretor teve bom senso de não colocar duas horas de filme, uma vez que a maior parte é um diálogo entre Clausewitz e Segismundo.
Por final, Clausewitz consegue ficar no Brasil por uma parte da peça que ele encena, e se dá conta de que ele realmente nasceu para o teatro, já que por meio deste que ele conseguiu algo tão importante.
Belíssimo filme.


Playing
: While my Guitar Gently Weeps